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Opinião

Fernanda Vazquez

Quão feminista é a política externa feminista da Espanha?

- Em termos de feminismo, a Espanha é um dos países líderes em termos de movimento e teoria feminista.

Quão feminista é a política externa feminista da Espanha?

Em meados de março de 2021, a Espanha anunciou a adoção de uma política externa feminista (PEF) e, ao mesmo tempo, lançou o Guia de Política Externa Feminista, que descreve os objetivos e o alcance da implementação dessa política. Desta forma, "Espanha se une aos países de vanguarda que incorporam a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas como elemento distintivo de sua política externa"[1].

Este país terá uma dupla abordagem no desenvolvimento da sua política externa: por um lado, as linhas prioritárias serão trabalhadas com o Serviço Exterior e, por outro, as fases da referida política serão executadas com uma perspectiva de género. Assim, esta política será orientada por cinco elementos orientadores:

  1. Abordagem transformadora: buscará promover mudanças profundas e estruturais no trabalho institucional para que adotem uma perspectiva de gênero transversal e sistemática;
  2. Liderança empenhada: o Serviço Exterior integrará o princípio da igualdade nas suas prioridades para assegurar recursos, de toda a índole, no quadro da execução do PEF;
  3. Apropriação: A apropriação desta política será incentivada entre os membros do Serviço Exterior, de modo que as pessoas em cargos de liderança tenham a obrigação de promover a igualdade de gênero;
  4. Participação inclusiva e promoção de alianças: Este PEF será executado em conjunto com outros Ministérios do país, especialmente com o Ministério da Igualdade. Além disso, serão estabelecidos canais com o setor privado, think tanks, organizações da sociedade civil, entre outros e, a nível internacional, serão promovidas redes internacionais sobre igualdade de gênero e este eixo será estabelecido na cooperação internacional que o país oferece ;
  5. Interseccionalidade e diversidade: A perspectiva interseccional será estabelecida em todas as áreas deste PEF.[2]

Esses elementos serão aplicados a cinco temas principais: a) Mulheres, paz e segurança, b) Violência contra mulheres e meninas, c) Direitos humanos de mulheres e meninas, **d ) ** Participação das mulheres nos espaços de decisão e e) Justiça econômica e empoderamento das mulheres; que, por sua vez, se pretendem concretizar através de vários instrumentos e níveis de governo, por exemplo: diplomacia bilateral, regional e multilateral, União Europeia, cooperação internacional, assistência e proteção consular, entre outros.

Por ser um novo PEF, ainda não há avaliações em sua concepção e execução; Entretanto, é importante mencionar que, assim como as quatro políticas externas analisadas anteriormente, não traz uma definição do que se entenderá por feminismo ou política externa feminista e, voltando a elementos feministas, não contempla a existência de sistemas de opressão também, especialmente o patriarcado. Com o exposto, é fundamental reforçar a ideia de que o feminismo é mais do que a aplicação de uma perspectiva de gênero em todos os âmbitos, o feminismo é a conscientização desses sistemas de opressão e a vontade política de mudar as estruturas para que as mulheres possam viver uma vida digna vida.

Em termos de elementos políticos, parece ser, juntamente com a da Suécia, uma das políticas externas de cariz feminista que mais tem em conta elementos para a sua conceção e, sobretudo, para a sua execução. O fato de terem contemplado um elemento relacionado à transformação das estruturas é um passo importante, porém, é preciso monitorar que assim é e não apenas um discurso; Por outro lado, é preciso destacar o estabelecimento da interseccionalidade como elemento na concepção do PEF, já que, até agora, apenas o mexicano o considerava como eixo norteador.

Em termos de feminismo, a Espanha é um dos países líderes em termos de movimento e teoria feminista; com casos como "La manada", em que uma mulher foi estuprada por cinco sujeitos[3], ou os números alarmantes da violência de gênero em que cerca de 1000 agressões sexuais são denunciadas a cada mês [ 4], a perspectiva de gênero e a criação de um PEF é extremamente necessária.

Porém, como já foi repetidamente mencionado, é necessário que uma política externa que se autodenomine feminista leve em conta a existência de sistemas de opressão que promovem a violência, a discriminação e a opressão. Como dito acima, a vontade política de mudança de estruturas é extremamente importante, é necessário que este seja um dos elementos chave para o desenvolvimento do PEF tanto interna quanto externamente.

"O feminismo toca o centro de gravidade de todas as assimetrias de poder." -Rita Segato.


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Vazquez, Fernanda. “¿Qué tan feminista es la política exterior feminista de España?.” CEMERI, 16 ago. 2023, https://cemeri.org/pt/opinion/o-politica-exterior-feminista-espana-du.