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Análise

Paulina Villegas

Cúpula da Paz na Ucrânia: Uma Reconciliação Possível?

- 80 países concordaram que a integridade territorial da Ucrânia é a base para alcançar a paz.

Cúpula da Paz na Ucrânia: Uma Reconciliação Possível?

Todo ano, de maneira periódica, celebra-se a Cúpula da Paz, uma conferência mundial de alto nível que surge sob o jugo da guerra entre Rússia e Ucrânia, com o objetivo de gerar acordos abrangentes que permitam alcançar a paz e pôr fim ao conflito.

Com 92 países participantes e mais de 50 chefes de Estado presentes na cúpula deste ano realizada na Suíça nos dias 15 e 16 de junho, destacam-se vários elementos que redefinirão o curso das relações internacionais, em um contexto em que, mais do que nunca, é necessário zelar pela paz e segurança internacional.

A ausência de Moscou e a necessidade de iniciar o diálogo

Entre os elementos mais relevantes da conferência, destacou-se a ausência de Moscou, que já havia sido anunciada como condição diante da rejeição da retirada da Ucrânia dos territórios em disputa. A ausência da Rússia na Cúpula da Paz ameaça fragmentar o processo de estabelecer as bases para chegar a um possível acordo de paz entre ambas as nações.

A Rússia continua rejeitando ouvir chamadas coletivas e participar de processos de diálogo e negociação, com uma postura a favor da manutenção da agressão em território ucraniano. Alcançar a paz implica grandes esforços de ambas as partes do conflito e até mesmo de seus aliados. Portanto, enquanto a Rússia não fizer parte da fórmula, não se verá um processo de paz consolidado a médio ou mesmo a longo prazo.

Diante desta premissa, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, reiterou sua esperança de alcançar “uma paz justa o mais rápido possível” expressando a importância da cúpula como fórum que abriga os processos de paz acordados, e afirmou que planos de ação e propostas de paz serão apresentados à Rússia uma vez que estes sejam acordados pela comunidade internacional.

O papel das alianças

As alianças desempenham um papel importante no conflito, pois além de representar os interesses comuns com algumas nações, podem ser elementos de contrapeso. Nos últimos meses, a comunidade internacional tem sido testemunha de como alguns Estados têm modificado seu discurso em relação ao conflito atual entre Rússia e Ucrânia. Um exemplo claro é o Brasil, que através de seu porta-voz e chefe de Estado Luiz Inácio Lula da Silva, havia reiterado a importância de iniciar negociações e resolver a disputa por meio da resolução pacífica de controvérsias.

No entanto, desta vez, replicando a postura da Rússia, chefes de Estado membros do grupo BRICS e aliados da Rússia se ausentaram da conferência, como foi o caso do presidente brasileiro, que recusou participar e em seu lugar enviou seu Embaixador designado em Berna. África do Sul e Índia enviaram outros representantes, enquanto a China se recusou a participar.

Por outro lado, 80 países concordaram que a integridade territorial da Ucrânia é a base para alcançar a paz. Dentro dessas delegações destacaram-se principalmente Estados Ocidentais aliados da Ucrânia, contra uma oposição de nações que se recusaram a assinar o documento para restabelecer a paz, o qual afirma que “a Carta das Nações Unidas servirá como instrumento base para consolidar o respeito à integridade territorial e à soberania como mecanismos para alcançar uma paz global, justa e duradoura na Ucrânia.” Como parte da oposição destacaram-se a Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, estes últimos dois, nações que têm consolidado nos últimos anos uma forte relação política e econômica com Moscou.

Segurança e direitos humanos: a agenda da Cúpula da Paz

Como parte da agenda da conferência, foram retomados alguns temas necessários para garantir uma maior estabilidade no sistema. Por isso, não deixou de ser discutido o conflito em Gaza e outras preocupações que chamaram a atenção da comunidade internacional, entre elas, como ponto principal, a restauração da integridade territorial da Ucrânia, seguida de outros pontos interessantes como o trânsito marítimo seguro e a facilitação da navegação comercial no Mar Negro.

Entre os restantes elementos-chave da conferência, destaca-se a abordagem do tema da reunificação de crianças ucranianas diante de uma violação maciça contra os Direitos Humanos e o Direito Humanitário, pois estima-se que cerca de 19,546 crianças foram deportadas ou deslocadas à força. Diante desta situação, enfatizou-se a importância de unir esforços para que as crianças voltem à Ucrânia mediante o respeito ao exercício do Direito Internacional.

Ao mesmo tempo, durante a conferência, discutiu-se a importância de zelar pela segurança alimentar diante da crise que está ocorrendo na Ucrânia pela falta de suprimentos alimentares que tem afetado principalmente o Sul Global, e por outro lado, a troca de prisioneiros de guerra, um dos muitos deveres pelos quais é necessário zelar em tempos de guerra.

Por fim, um dos pontos mais relevantes da agenda foi o tema da segurança e proibição de armamento nuclear, que representa uma ameaça latente para a estabilidade do sistema.

Sobre este ponto, chamou a atenção a falta de apoio na declaração final, que aborda os pontos mencionados anteriormente e, com maior ênfase, na segurança nuclear.

Cabe destacar que há pontos nos quais vários Estados estão de acordo, como o uso seguro de energia nuclear com enfoque ambiental, ressaltando a importância de que o armamento nuclear representa uma ameaça para o status quo. No comunicado, enfatizou-se a importância de que a Ucrânia tenha pleno controle da central nuclear de Zaporizhia, que foi qualificada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) como um elemento desestabilizador enquanto continuar sob controle das forças russas.

No entanto, embora o documento tenha sido subscrito por mais de 80 países, entre eles a maioria dos Estados da União Europeia, Estados Unidos, Japão e alguns países da América Latina como Argentina, Chile e Equador, chamou a atenção a rejeição de 13 países que, em grande parte, são parceiros comerciais da Rússia e em alguns casos economias emergentes, como foi o caso do México, país que reiterou seu compromisso em favor dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, pela paz e pelo respeito ao Direito e Segurança Internacional, mas que desta vez demonstrou novamente ter uma política externa heterogênea.

A Cúpula da Paz é uma iniciativa com grandes perspectivas que atende à luta pela manutenção da paz em um contexto de conflitos emergentes e elementos que ameaçam interromper a estabilidade do sistema. No entanto, como destacado no presente artigo, o primeiro passo para estabelecer as bases de um projeto de paz é a resolução pacífica de controvérsias mediante uma negociação entre as partes do conflito. No âmbito do confronto entre Rússia e Ucrânia, enquanto a Rússia continuar sendo deixada de fora da equação, dificilmente se restaurará a paz na região.

Fontes

    1. France 24. "Cumbre por la Paz: Ucrania ansía recabar más apoyo a su plan para poner fin a la guerra". France24, 15 de junio de 2024. https://www.france24.com/es/europa/20240615-cumbre-por-la-paz-ucrania-ansía-recabar-más-apoyo-a-su-plan-para-poner-fin-a-la-guerra.

    2. France 24. "Cumbre de Paz para Ucrania: 80 países firman la declaración final, 13 se abstienen". France24, 16 de junio de 2024. https://www.france24.com/es/europa/20240616-seguridad-nuclear-y-en-el-tránsito-marítimo-claves-en-declaración-final-de-la-cumbre-de-paz-para-ucrania.

    3. INFOBAE. "Brasil, México y otros diez países no firmaron la declaración de la Cumbre por la paz de Ucrania". infobae, 16 de junio de 2024. https://www.infobae.com/america/mundo/2024/06/16/brasil-mexico-y-otros-diez-paises-no-firmaron-la-declaracion-de-la-cumbre-por-la-paz-de-ucrania/.

    4. Secretaría de Relaciones Exteriores. "México participa en Cumbre para la Paz en Ucrania, celebrada en Suiza". gob.mx, 16 de junio de 2024. https://www.gob.mx/sre/prensa/mexico-participa-en-cumbre-para-la-paz-en-ucrania-celebrada-en-suiza


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