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Renata Venero
O que é o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)?
- Na região da América Latina e Caribe, uma das instituições chave no processo de cooperação tem sido, sem dúvida, o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em um contexto de ajuste e grandes mudanças no cenário internacional, a cooperação desempenhou um papel relevante na solução de problemas mútuos de natureza econômica, social, cultural e humanitária. Nos anos 50 o termo cooperação para o desenvolvimento encontraria grande apoio de economistas, acadêmicos e governos que colocariam a ideia em prática.
Assim, desde o final da Segunda Guerra Mundial, começou a se configurar um sistema institucional, delineado durante a década de 1950 e que se consolidaria definitivamente na década de 1960, capaz de gerir os fluxos de recursos que, a partir daquele momento, iam a serem transferidos por aqueles chamados «países industrializados» para «países em desenvolvimento» (Koldo, 2000, p.28).
Nesse período, foram criadas instituições como o Banco Mundial e os Bancos Regionais de Desenvolvimento. Estes últimos têm sido os mais significativos para a cooperação para o desenvolvimento, já que sua estrutura e objetivos estão orientados para as necessidades de cada região a que pertencem. Por isso, o objetivo deste artigo é abordar a origem, estrutura e informações relacionadas ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Na região da América Latina e Caribe, uma das instituições chave no processo de cooperação tem sido, sem dúvida, o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Que é uma organização financeira internacional criada no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1959 com o objetivo de promover o crescimento econômico e social da região (Afi, 2016, p.1).
Esta instituição é independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Da mesma forma, enquadra-se na categoria de uma entidade particular, denominada “Banco de Desenvolvimento”, que tem capacidade de intervir e influenciar diretamente a Arquitetura Financeira Regional e a arquitetura interna dos Estados (Castiglioni, 2021, p. 112 ).
Portanto, como menciona Lucas Castiglioni (2021), as instituições financeiras regionais como o BID assumem um papel importante na articulação das políticas econômicas e no esquema de “investimento público-privado”. Da mesma forma, eles têm a capacidade de operar simultaneamente nas esferas governamental e financeira (p.112).
Pelo exposto, a relevância que esta instituição tem hoje decorre do grande trabalho de todos os representantes, presidentes e diplomatas da época nos países da América. Os quais, no contexto do pan-americanismo, buscavam concretizar suas ideias por meio de instituições que os apoiavam.
Principalmente, a ideia de criar uma instituição para o desenvolvimento da região surgiu das propostas destinadas a estabelecer um sistema interamericano durante as Conferências Pan-Americanas, desde a Primeira Conferência em 1890, até a realizada em Montevidéu em 1933 ( BID, 2022).
As ideias que circularam a este respeito, afirmavam que este futuro instituto bancário funcionaria essencialmente como um "banco central" para a região, e que teria como objectivo primordial a estabilidade monetária, podendo mesmo actuar como regulador de uma economia comum moeda do continente ( Marichal, 2011, p.5).
Apesar do contínuo interesse na criação dessa instituição por parte de delegados de países da América Latina e do Caribe, como o delegado do México, Eduardo Villaseñor, demorou setenta anos para que o projeto se concretizasse.
Em 1958, o presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, serviu de catalisador para a concretização da proposta que há tantos anos não era desenvolvida (Universidade Católica de Córdoba, 2019, p.2). Sob sua iniciativa, foi realizada a Operação Pan-Americana, missão diplomática na qual solicitou o apoio dos demais países latino-americanos para a criação de um comitê conjunto que discutiria os objetivos de desenvolvimento econômico da região, e avaliar os meios para alcançá-los (Marichal, 2011, p.25).
Assim, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), com o Comitê dos 21 e seu projeto de resolução sobre o estabelecimento de uma Instituição para o Desenvolvimento Econômico, foi convocada uma reunião em 18 de dezembro de 1958. Comissão Especializada de Representantes Governamentais para negociar e redigir a constituição da nova instituição financeira interamericana (Marichal, 2011, p.26).
Consequentemente, a Comissão Especializada concluiu suas atividades em 8 de abril de 1959 com o documento final que foi apresentado como Ato Constitutivo do novo Banco Interamericano de Desenvolvimento, assinado por 18 países fundadores: Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (Marichal, 2011, p.26).
Cabe destacar que o Banco Interamericano de Desenvolvimento é, por excelência, a maior e mais antiga instituição de desenvolvimento regional do mundo, bem como a primeira a dispor de políticas e instrumentos de desenvolvimento econômico e social. Ao mesmo tempo, é pioneira no apoio a programas sociais por meio da promoção de outras instituições econômicas, sociais, educacionais e de saúde. Em suma, com o tempo, tornou-se um modelo a ser seguido em outras regiões do mundo (Universidade Católica de Córdoba, 2019, p.2).
Ao longo dos anos, o BID adicionou novos países membros à medida que seu capital crescia. Essas ações têm permitido aumentar o apoio a programas que contribuam para o alcance dos objetivos de seu ato constitutivo, bem como desenvolver suas ações na esfera privada.
Além disso, no final da década de 1980, o BID criou novas instituições e formulou políticas para fortalecer o financiamento ao setor privado dos países membros mutuários, dando origem à formação do Grupo do BID (Castiglioni, 2021, p. 11). Que é composto por:
- IDB Invest: Corporação Interamericana de Investimentos que apóia PMEs.
- BID Lab: O laboratório de inovação avalia novos modelos de alto risco, a fim de inspirar o setor privado (micro e pequenas empresas) e resolver problemas econômicos relacionados ao desenvolvimento na América Latina e no Caribe.
Além disso, a estrutura organizacional do BID é composta por uma Assembléia Geral, que tem a função de governar a instituição e designar o Presidente do Banco. Cada país membro fornece um Governador para a Assembleia, em geral, geralmente são os Ministros da Fazenda ou do Tesouro, os presidentes dos bancos centrais e outros altos funcionários públicos (Universidad Católica de Córdoba, 2019, p.2).
A Assembleia realiza uma reunião anual, no final de março ou início de abril, juntamente com a Corporação Interamericana de Investimentos. Esses eventos são fóruns de discussão de temas de especial relevância. Por sua vez, há troca de ideias e opiniões entre os representantes de ambas as instituições (BID, 2022).
Da mesma forma, autoridades de outras instituições multilaterais, representantes de agências de desenvolvimento e executivos do setor financeiro privado poderão participar da reunião da Assembleia (BID, 201). A Reunião Anual de 2022 foi realizada virtualmente de 28 de março a 1º de abril deste ano.
Por outro lado, a Assembleia delega competências na Comissão Executiva, a quem cabe supervisionar e conduzir as operações do Banco. É composto por 14 Diretores Executivos e 14 suplentes, sendo estes últimos com plenos poderes para atuar na ausência de seus titulares (BID, 2022).
Atualmente, sua sede é em Washington, Estados Unidos, e possui escritórios regionais na Ásia (Tóquio, Japão) e Europa (Madrid, Espanha) (Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, 2022). Os principais objetivos do Banco são:
reduzir a pobreza e as disparidades sociais; atender às necessidades de países pequenos e vulneráveis; ajudar a melhorar a saúde, educação e infra-estrutura; encorajar o desenvolvimento através do setor privado; enfrentar o desafio da mudança climática promovendo energia renovável e sustentabilidade ecológica; bem como fortalecer a cooperação e integração regional. (BID, 2022)
Isso é feito por meio de empréstimos, doações e assistência técnica para projetos específicos e programas de reforma econômica. Hoje, o BID é a principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe (BID, 2022)
Além disso, tem 48 países membros divididos em 14 grupos votantes, dos quais 26 são membros mutuários, todos da América Latina e Caribe, e 22 membros não regionais, não mutuários, incluindo a China (Afi, 2016, p. .3). Os mutuários recebem pouco mais de 50% do poder de voto na diretoria da instituição (BID, 2022).
Países membros tomadores de empréstimos | Países regionais não tomadores de empréstimos | Países não regionais não tomadores de empréstimos |
Argentina | Canadá | Alemanha |
Bahamas | Estados Unidos | Áustria |
Barbados | Bélgica | |
Belize | China | |
Bolívia | Coreia | |
Brasil | Croácia | < /tr>|
Chile | Dinamarca | |
Colômbia | Eslovênia | |
Costa Rica | Espanha | |
Equador td> | Finlândia | |
El Salvador | França | tr>|
Guatemala | Israel | |
Guiana | < /td> | Itália |
Haiti | Japão | |
Honduras | Noruega | |
Jamaica | Holanda | |
México | Portugal | |
Nicarágua | < /td > | Reino Unido |
Panamá | Suécia | |
Suíça | ||
Peru | ||
República Dominicana | ||
Suriname | < /td > | |
Trinidad e Tobago | ||
Uruguai | ||
Venezuela | < /tr > |
Preparação própria com dados do site do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Fonte: BID (2022). Capital social e poder de voto.
Desde seu Nono Aumento Geral de Capital (BID-9), o BID tem procurado dedicar pelo menos 35% do volume de todos os seus empréstimos anuais a países pequenos e vulneráveis da região. Este grupo de países inclui Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Suriname, Trinidad e Tobago e Uruguai . (BID, 2022).
Por outro lado, de acordo com as Estatísticas de Projetos do site oficial do Banco Interamericano de Desenvolvimento, nos últimos 5 anos foram aprovados um total de 503 projetos, com financiamento de 64.541,10 milhões de dólares. Nesse período, o Brasil se posiciona como o país com os maiores projetos financiados pelo BID, com um total de 58 (BID, 2022).
Da mesma forma, estima-se que, anualmente, o BID conceda 13 bilhões de dólares em créditos aprovados a seus países mutuários. Em 2021, as principais áreas setoriais às quais essa ajuda foi destinada foram reforma ou modernização do Estado, investimento social, mercados financeiros, transporte, água e saneamento, energia e saúde (BID, 2022). Por sua vez, desde 2020 fornece financiamento aos países mutuários para sua recuperação devido aos estragos causados pela pandemia de COVID-19 na região.
Em conclusão, pode-se observar que o conceito de Banco Interamericano de Desenvolvimento nasceu dos impulsos para um projeto pan-americano, reforçado pelas ideias de cooperação internacional, na década de 50 com os objetivos de Cooperação para o Desenvolvimento e que é atualmente posicionado como um dos mais importantes Bancos Regionais do mundo.
Citando Lucas Castiglioni (2021), o Banco foi criado para combater a marginalização dentro do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, para enfatizar uma voz diferente da estabelecida e, ao mesmo tempo, foi fruto da luta conjunta de os países latino-americanos e caribenhos a encontrar seu caminho para a ordem mundial do pós-guerra, da qual foram totalmente excluídos.
Fontes
Afi. (2016). Banco Interamericano de Desarrollo. AfiGuías. 16. 8. http://www.iberglobal.com/files/2016/bid_afi.pdf
BID. (2022). Acerca del BID. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/perspectiva-general
BID. (2022). Capital social y poder de voto. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/capital-social-y-poder-de-voto-0
BID. (2022). Cómo estamos organizados. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/como-estamos-organizados
BID. (2022). Estadísticas de Proyectos. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/proyectos
BID. (2022). Historia del Banco Interamericano de Desarrollo. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/historia-del-banco-interamericano-de-desarrollo%2C5999.html
BID. (2022). Países miembros prestatarios. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/paises-miembros-prestatarios
BID. (2021). Reuniones Anuales. Sitio web del Banco Interamericano de Desarrollo. https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/reuniones-anuales
Cancillería de Colombia. (2022). Banco Interamericano de Desarrollo (BID). Sitio web del Ministerio de Relaciones Exteriores de Colombia. https://www.cancilleria.gov.co/international/regional/idb
Castiglioni, Lucas. (2021). Apuntes para una historia crítica del Banco Interamericano de Desarrollo (BID). Revista Cuadernos de Economía Crítica. 17(14). http://sociedadeconomiacritica.org/ojs/index.php/cec/article/view/230
Koldo Unceta, Pilar Yoldi. (2000). La cooperación al desarrollo: surgimiento y evolución histórica. 1ª ed. Victoria-Gasteiz: Servicio Central de Publicación del Gobierno Vasco. 123.
Marichal, Carlos. (2011). Los antecedentes históricos de la creación del Banco Interamericano de desarrollo: reflexión a partir del archivo de Eduardo Villaseñor.
Archivo Histórico del Banco de México. (s.f.) 53. https://carlosmarichal.colmex.mx/banca/Antecedentes%20historico%20BID%20y%20E%20Villasenor.pdf
Universidad Católica de Córdoba. (2019). Banco Interamericano de Desarrollo. Blog de la Universidad Católica de Córdoba. 9. https://blog.ucc.edu.ar/siv/files/2019/12/BANCO-INTERAMERICANO-DE-DESARROLLO-1.pdf