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Análise

José Sánchez

Como banir a figura messiânica dos caudilhos na América Latina?: A encenação de governos não centrais

- De que depende virar a página dos caudilhos na América Latina? Vamos descentralizar o poder!

Como banir a figura messiânica dos caudilhos na América Latina?: A encenação de governos não centrais

A região da América Latina (AL) apresenta em sua história uma manifestação constante de regimes, tanto civis quanto militares, que têm tentado cobrar sobre si a figura messiânica que resolverá todos os males que afligem a população. Os constantes discursos de polarização em que se identifica um inimigo, e nos quais se englobam todos os problemas, criam a falsa percepção de que, no momento de erradicá-lo, todas as deficiências serão resolvidas.

Esta dinâmica tem sido mantida desde que, progressivamente, toda a região da AL se tornou independente e estabeleceu as suas próprias estruturas de poder; uma constante que permanece no século XXI, quando ainda vigoram figuras como Lula da Silva no Brasil, ou Evo Morales na Bolívia, que ainda mantém uma importante influência política no seu país.

Nesse sentido, cabe a questão central deste artigo, como banir a figura messiânica dos caudilhos em AL?, tendo como hipótese principal que a presença ativa e constante de governos não centrais (GNC) no cenário local e internacional, descentralizaria o poder da figura presidencial e, portanto, aproximaria a população do processo de controle e tomada de decisões que impactam diretamente a sua localidade.

Para isso, é necessário destacar que a estrutura dos países federais e unitários não é considerada um fator essencial, uma vez que é necessária uma legislação clara e concisa para o exercício desta atividade pelos GNCs; Nesse sentido, a literatura especializada denomina a ação internacional dos GNCs de paradiplomacia, diplomacia de cidade, diplomacia descentralizada, governança multinível, etc. Contudo, defendo a utilização do termo paradiplomacia, como um conceito que engloba todos os anteriores, mas que não exclui a utilização dos restantes termos, em situações específicas que se justifiquem.

Para isso,

A paradiplomacia pode ser definida como a participação de governos não centrais nas relações internacionais, através do estabelecimento de contactos [formais e informais] permanentes ou ad hoc com entidades públicas ou privadas estrangeiras, com o objectivo de promover diversas aspectos, bem como qualquer outra dimensão externa dos seus próprios poderes constitucionais (Cornago 2001, 56).

Certamente esta característica responde mais a países com sistemas federais como os Estados Unidos, México, Brasil ou Canadá; mas isso não impede de tomar a definição e aplicá-la a países unitários como Chile ou Peru, além disso, pode-se destacar o caso do Governo Metropolitano de Tóquio, que exerce uma atividade paradiplomática destacada, possuindo um plano estruturado de projeção internacional apesar de ser sob um regime unitário de governo.

Da mesma forma, pode-se acrescentar que a paradiplomacia,<<[é] a capacidade dos municípios, estados ou regiões e empresas privadas de dialogarem diretamente com outras partes do mundo... como resposta à incapacidade do Estado em resolver problemas locais >> (Zeraoui s/f) Sendo a definição que melhor se adequa à hipótese central do artigo, pois destaca a necessidade de uma solução específica, para um problema que ocorre em determinada localidade, visto que o grau de atenção que pode ter o o governo central não é necessário.

Esse cenário ganhou especial destaque durante a pandemia da COVID-19, nos casos do Governador de Nova York (Estados Unidos) e do Rio de Janeiro (Brasil), que, na época, divergiam no manejo da crise. , e não seguiram as disposições estipuladas pelos presidentes de ambos os países, deixando um exemplo claro de como as decisões do governo central podem ser contrárias às necessidades específicas de um GNC. Da mesma forma, demonstra como o poder é descentralizado sem que isso implique uma ruptura dentro do país, de modo que as razões que impedem a culminação do processo de descentralização em muitos países da AL (por exemplo, Peru) passam por uma decisão de manter o poder centralizado e, portanto, , os recursos.

Neste sentido, as políticas que foram implementadas na AL para conter o declínio económico resultante da paralisação das atividades, foram pensadas a nível nacional, mas não para os casos particulares que cada zona representa, sendo uma região com um <<elevado ​​e desigualdade persistente>> (Organização das Nações Unidas 2020, 6), então isso poderia explicar que <<o efeito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser uma contração de cerca de 9% na região como um todo >> (Acevedo et al. 2020, 4) que trará consigo números desanimadores em relação ao desemprego e ao aumento de pessoas que vivem em extrema pobreza.

É por isso que devemos afastar-nos da visão centralista que os governos centrais representam, e começar a olhar para os GNCs, como os principais decisores, para exercerem uma supervisão focada, e participarem activamente como cidadãos na agenda local, nacional e internacional. Para isso é necessário ter informações sobre as políticas que têm apresentado a melhor opção para minimizar o impacto social da pandemia, neste caso,

A política com maior relação custo-benefício é o adiamento do pagamento dos impostos sobre os salários e das contribuições para a segurança social, uma vez que representa um efeito direto no aumento do nível de liquidez das empresas que pode ser utilizado para manter o emprego e o valor dos salários, e com um desenho adequado que adie o seu reembolso para o futuro, o seu custo fiscal líquido pode ser próximo de zero (Acevedo et al. 2020, 22).

Sendo uma medida aplicada a nível nacional na maioria dos países da AL, portanto, a adaptação às diferentes realidades de cada GNC desta política pública pode significar um maior grau de sucesso na sua execução.

Isto pode ser apoiado pelo grau de importância que os GNCs dão à participação cidadã, por exemplo, no Peru, um estudo recente mostra como, quanto mais próximo o nível de governo estiver da população, maiores serão os projetos executados com base em orçamentos participativos.

Tabela nº 1

Fonte: (Remy, Urrutia e Veas 2020, 84).

Da tabela, por ordem do GNV mais próximo da população (Governo Regional, Província e Distrito), verifica-se como as percentagens de inclusão no orçamento anual dos projectos elaborados com base na participação cidadã são mais eficazes quando o nível do governo está mais próximo da população, desde que o governante não se sinta uma figura distante, sobre a qual a população não possa exercer um controle mais direto, como acontece nos primeiros níveis de governo.

Neste sentido, a defesa de uma maior participação do GNC na elaboração das políticas públicas a nível nacional, permitirá um olhar realista sobre o governo central, conseguindo a coordenação necessária para gerir a pandemia, e os desafios que esta já traz. com isso, eliminando a figura messiânica do presidente e democratizando o poder.

Fontes

    Acevedo, Ivonne, Francesca Castellani, Iván Flores, Giulia Lotti, y Miguel Székely. 2020. “Implicaciones sociales del Covid-19: Estimaciones y alternativas para América Latina y El Caribe”. IDB-DP-820. Documento para Discusión. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.18235/0002758.

    Organización de las Naciones Unidas. 2020. “Informe: El impacto del COVID-19 en América Latina y el Caribe (julio 2020)”. Grupo de las Naciones Unidas para el Desarrollo Sostenible. https://reliefweb.int/report/world/informe-el-impacto-del-covid-19-en-am-rica-latina-y-el-caribe-julio-2020.

    Remy, María Isabel, Jaime Urrutia, y Alejandra Veas. 2020. “El presupuesto participativo en Perú: un estudio de casos”. 42. Serie de Estudios sobre Desarrollo. Documento de Trabajo. Lima. http://repositorio.iep.org.pe/handle/IEP/9.

    Zeraoui, Zidane. s/f. “Qué es la paradiplomacia”. Fundación Safe Democracy. Consultado el 21 de octubre de 2020. http://spanish.safe-democracy.org/2007/02/20/que-es-la-paradiplomacia/


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