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Análise

Santiago Maldonado Aquino

Diante da miragem eleitoral dos partidos políticos e das ideologias

- Geograficamente, a balança do poder político pende a favor do MAS-IPSP.

Diante da miragem eleitoral dos partidos políticos e das ideologias

A análise das variáveis ​​geopolíticas permite configurar um quadro de governação após o processo eleitoral realizado num determinado território, neste caso limitar-me-ei às últimas eleições subnacionais realizadas na Bolívia e ao respetivo estudo dos governos. Já depois de qualquer processo eleitoral, a configuração da governação é essencial para o exercício do poder, pelo que isto se consegue com uma análise adequada que facilite ao representante eleito exercer a governação com critérios sólidos.

Ao longo da análise são apresentados diversos fatores/variáveis ​​analíticas com os quais se pretende demonstrar o desenvolvimento do espaço geográfico boliviano (cidades) nas eleições nacionais e qual o impacto que estas têm do ponto de vista político. A plataforma Economipedia define a geopolítica como um método de estudo utilizado para compreender, bem como para explicar e analisar como se desenvolve o comportamento político, tendo em conta vários de variáveis ​​geográficas. No entanto, se for considerado conveniente, o referido conceito (geopolítica) é eliminado e substituído pelo termo “política”, se necessário.

Este último baseia-se em variáveis ​​geopolíticas como a geografia eleitoral, a demografia eleitoral e as preferências por afinidades partidárias ou filiação partidária. Assim sendo, o referido permite evitar miragens eleitorais enganosas, gerir critérios de governação sólidos e afastar falsas hipóteses baseadas em premissas quiméricas sobre os resultados obtidos nas eleições.

Configuração eleitoral na Bolívia

Nos dias 7 de março (1º turno) e 8 de abril (2º turno) foram realizadas as eleições subnacionais na Bolívia, onde foram eleitos governadores de cada um dos 9 departamentos e prefeitos dos 336 municípios, demonstrando uma preferência eleitoral diferente das eleições anteriores. É necessário ressaltar que desde a aprovação da Constituição Política do Estado (CPE) em 2009, governadores e prefeitos são eleitos por voto universal secreto (Honorável Congresso Nacional, 2009), o primeiro foi realizado em 2010, o segundo em 2015 e o terceiro este ano.

Nas duas últimas eleições subnacionais, a preferência eleitoral foi para o partido do atual governo: o Movimiento al Socialismo – Instrumento Político por la Soberania de los Pueblos (MAS-IPSP) e do ponto de vista das tendências, parece que no nas eleições actuais, a maioria preferencial que este partido político tinha estava fragmentada. No entanto, esta miragem política deve ser analisada sob diferentes perspectivas para realmente compreender o fenómeno geopolítico do poder departamental baseado na preferência eleitoral da sociedade.

O MAS-IPSP venceu nos departamentos de Cochabamba, Oruro e Potosí; o Movimento do Terceiro Sistema (MTS) em Pando e Beni; Jallalla venceu no departamento de La Paz; Chuquisaca Somos Todos (CST) venceu em Chuquisaca; Acreditamos em Santa Cruz; e United to Renew (UNIR) venceu em Tarija. Quantitativamente, do ponto de vista dos espaços geográficos departamentais, o resultado do poder seria de 3 departamentos para o MAS-IPSP, 2 para o MTS e 1 departamento respectivamente para Jallalla, CST, Creemos e UNIR.

Esta configuração geopolítica levaria a deduzir que a preferência eleitoral se diversificou em vez de se concentrar (como aconteceu nas eleições de 2010 e 2015). A tendência foi agrupar a votação no MAS-IPSP, ou pelo menos aderir à fórmula 6 x 3, o que significa preservar a preferência eleitoral em 6 departamentos, contra 3 que permaneceram nas mãos da oposição (Sánchez, 2015). Em vez de manter esta preferência nas últimas eleições, o resultado de 3 x 6 foi revertido, ou seja, o MAS-IPSP venceu em 3 departamentos e a oposição nos 6 restantes (ver gráfico 1). Estes resultados da preferência eleitoral, sem dúvida, permitem realizar a análise do ponto de vista da governança que ocorreria em cada um dos departamentos bolivianos.

Gráfico 1. Mapa dos resultados eleitorais subnacionais de 2010, 2015 e 2021.

Fonte: Elaboração própria com base no Órgão Eleitoral Plurinacional (Transparência Eleitoral, 2021).

Geografia eleitoral para governança departamental

A análise da preferência eleitoral pela governação departamental, na perspectiva geográfica, é analisada a partir de 3 critérios: (a) a partir do critério dos departamentos que mantiveram um comportamento eleitoral inalterável na sua preferência a favor do partido do governo; (b) do comportamento inalterável da população em favor dos partidos da oposição; e (c) do comportamento dos eleitores nos departamentos que alternavam entre votar a favor do partido no poder e votar na oposição.

É claro que nas últimas eleições subnacionais, do ponto de vista geográfico, existe um comportamento comum em 3 departamentos (Cochabamba, Oruro e Potosí) onde foi demonstrado que o MAS-IPSP mantém a preferência eleitoral. Da mesma forma, está estabelecido que em 2 departamentos até agora não conseguiu obter a vitória (Tarija e Santa Cruz), onde a preferência eleitoral foi a favor de outras frentes políticas contrárias à do partido no poder. Enquanto nos restantes 4 departamentos (Pando, Beni, Chuquisaca e La Paz) a preferência foi dividida entre o MAS-IPSP e a oposição, ou seja, ora venceu o partido no poder, ora a oposição.

Isto significa uma relação de poder de 3 x 2/4. Em 3 departamentos o MAS-IPSP mantém uma presença sólida, em 2 a oposição e em 4 dividem o poder, alternando ora a favor, ora contra. Embora a tendência em La Paz e Beni seja para a oposição, o mesmo não acontece com Pando e Chuquisaca, cuja tendência é para o partido no poder. Do ponto de vista geográfico infere-se que existe uma superioridade de poder do MAS-IPSP com 3 departamentos permanentes e 2 voláteis, somando 5 departamentos a seu favor. Portanto, a oposição tem 2 departamentos permanentes e 2 voláteis, perfazendo um total de 4 departamentos.

Geograficamente, a balança do poder político pende a favor do MAS-IPSP, o que mostra que não é a aparente miragem geográfica onde só detém o poder em 3 departamentos devido aos resultados das últimas eleições subnacionais. Esta conclusão geográfica aliada ao comportamento da massa populacional e do poder legislativo departamental, ou seja, das Assembleias Departamentais, demonstrará mais tarde a mudança de actores na governação de cada departamento onde não existe um representante do MAS-IPSP (este devido ao comportamento e jogo político que caracteriza este partido).

Demografia eleitoral para governança departamental

Segundo dados do Órgão Eleitoral Plurinacional (OEP) – quarto poder público do Estado – o caderno eleitoral é de 7.026.294 habitantes, cuja preferência do ponto de vista de governança é analisada a partir de 3 critérios: (a) pela preferência eleitoral pelo total da população votante por departamento, (b) pela população das capitais departamentais e (c) pela preferência eleitoral da população das províncias de cada departamento.

Quanto à preferência eleitoral por departamentos, é evidente que o partido no poder obteve 30,4% dos habitantes do total dos cadernos eleitorais, o que corresponde à população de Cochabamba, Potosí e Oruro; enquanto a oposição que, embora dispersa na posição político-partidária, corresponde a 69,6%. Os resultados da preferência eleitoral nas capitais departamentais mostram pouca variação na percentagem (para o partido no poder é de 28,5% e para a oposição de 71,5%), embora a diferença numérica nos cadernos eleitorais nas capitais seja consideravelmente diferente. Finalmente, o número de preferências eleitorais nas províncias representa apenas 31,9% para o partido no poder e 68,1% para a oposição.

Complementando a análise da preferência eleitoral, no que diz respeito à facilidade de governação por departamentos, podem distinguir-se 3 grupos demográficos: (a) com cadernos eleitorais superiores a um milhão, onde se destacam os departamentos de La Paz, Santa Cruz e Cochabamba , chamados de eixo central da Bolívia; (b) pertencem a este grupo departamentos com cadernos eleitorais entre 300.000 e 500.000 eleitores, Potosí, Tarija, Chuquisaca e Oruro; e (c) finalmente aqueles com menos de 300.000 eleitores (como os departamentos de Beni e Pando). No primeiro grupo de departamentos, a preferência eleitoral foi para a oposição com 74% (La Paz e Santa Cruz) enquanto Cochabamba permaneceu com o partido no poder com 26%. No segundo grupo, a preferência eleitoral foi para o partido no poder com 51,6% (Potosí e Oruro) e a oposição atingiu 48,4% em Tarija e Chuquisaca. Finalmente, no terceiro grupo a preferência eleitoral do partido no poder é de 0%, enquanto a oposição representa 100%.

Na perspectiva demográfica da governação baseada na preferência eleitoral, afirma-se que a oposição oferece melhores oportunidades de governação devido à preferência eleitoral da população votante, tanto para a análise da demografia dos departamentos, das capitais departamentais como para as províncias de os departamentos. Isto significa que a miragem da preferência eleitoral pelo voto nas províncias que tanto se tem falado para dar uma vitória eleitoral ao MAS-IPSP, é apenas uma ilusão política. A verdade é demonstrada pela preferência eleitoral que foi quantitativamente determinada na análise demográfica que facilitará a governação.

Preferência eleitoral por afinidade

A análise dos resultados das eleições subnacionais de 2021 é realizada na perspectiva da governação nos departamentos, tendo em conta a preferência eleitoral por afinidade política. Para o que se considera: (a) a afinidade política pela ideologia partidária e (b) a afinidade política pessoal do representante eleito.

Devido à afinidade política pela ideologia partidária (a), o MAS-IPSP possui 2 características: uma delas é a ideologia política socialista de raiz da sigla “Movimento ao Socialismo” (MAS) e a outra característica de raízes sociais populistas que é o “Instrumento Político para a Soberania dos Povos” (IPSP). É por estas 2 características que a preferência eleitoral se aglutina e vence em 3 departamentos (Cochabamba, Oruro e Potosí).

No entanto, há também afinidade político-partidária com o Movimiento Tercer Sistema (MTS) que venceu em 2 departamentos, Pando e Beni, bem como com Jallalla La Paz que venceu precisamente no departamento de La Paz. Tanto o MAS-IPSP, como o MTS e Jallalla, têm uma profunda afinidade com o carácter social populista e não com a ideologia socialista e comunista. O que revela uma verdade que devido a esta afinidade social populista há uma maioria de 6 departamentos com as mesmas características, deixando de lado a miragem eleitoral que só estaria presente em 3 departamentos, quando na realidade são 6 departamentos.

Pela afinidade política pessoal do eleito (b), embora 3 representem o partido no poder, não esqueçamos que o eleito em Pando (Regis Richter) tem as suas origens como militante e apoiante do MAS-IPSP e que ele só ostentou a sigla MTS no processo eleitoral. O mesmo acontece com o representante eleito em Chuquisaca (Damián Condori), também ex-militante quíchua do partido governista que, ao não ser eleito em 2015 como candidato a governador, formou sua própria organização com o nome de Chuquisaca Somos Todos ( CST).

Isto significa que, pelas raízes de afinidade pessoal dos deputados, 5 seriam os departamentos que têm esta característica com tendência para o partido no poder, o que também com este argumento faz desaparecer a miragem eleitoral de que este partido político só venceu em 3 departamentos, quando na realidade por afinidade pessoal dos representantes eleitos, são 5.

Considerações finais

Graças à análise geopolítica das preferências eleitorais, estabelece-se que, investigando variáveis ​​diferentes das diárias ou superficiais, é possível determinar verdades onde há necessidade de as levar a sério e com responsabilidade, dado que os resultados eleitorais para voto universal por si só não são suficientes e provocam a chamada miragem eleitoral que pode ser enganosa e falsa.

As condições geográficas do mapa eleitoral, as características demográficas da população com os cadernos eleitorais, as qualidades de afinidade ideológica partidária e de afinidade pessoal de pertença a um partido, configuram holisticamente a preferência eleitoral para determinar a governação necessária dos governos departamentais.

Demonstra-se também que os cadernos eleitorais devem ser analisados ​​por critérios como as qualidades de localização geográfica, seja nas capitais departamentais ou nas províncias, o que permite estabelecer preferências eleitorais urbanas e rurais. Na verdade, isto permite-nos não deixar escapar que a vitória eleitoral se deve apenas à preferência rural, sem levar em conta a preferência urbana, gerando mais uma miragem eleitoral enganosa.

Em suma, as preferências eleitorais geográficas devem ser combinadas com variáveis ​​demográficas e tendências ideológicas, sociológicas e etnográficas para se ter uma imagem dos resultados eleitorais que facilitem e permitam a governação nos departamentos ou estados de um determinado país; sendo que casos como o da Bolívia se replicam em toda a América Latina, uma vez que não partilhamos apenas um passado comum.

Fontes

    Honorable Congreso Nacional. (2009). Constitución Política del Estado. La Paz: Gaceta Oficial de Bolivia.

    Órgano Electoral Plurinacional. (2021). Elección de autoridades políticas departamentales, regionales y municipales 2021. La Paz: OEP.

    Sánchez, G. (2015). Elecciones sub nacionales 2015 en Bolivia: ¿Derrota o victoria del MAS? Revista el Horizonte, 77 – 84.

    Transparencia electoral. (2021). Informe preliminar de las elecciones de autoridades políticas departamentales, regionales y municipales de Bolvia 2021. La Habana: Transparencia electoral.


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