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Análise

Andrea Garfia

Tráfico de drogas na América Latina

- Estima-se que metade da produção total de cocaína da América do Sul destinada aos mercados mundiais passa pelo Caribe.

Tráfico de drogas na América Latina

O tráfico de drogas é um comércio ilícito global que inclui o cultivo, fabricação, distribuição e venda de substâncias que estão sujeitas a leis que proíbem o seu comércio. Na Declaração sobre o Estado de Direito, os Estados-Membros reconheceram a importância de reforçar a cooperação internacional na luta contra o problema mundial das drogas. A Assembleia Geral reconheceu que: apesar de os Estados, as organizações competentes, a sociedade civil e as organizações não governamentais continuarem a intensificar os seus esforços, o problema mundial das drogas mina a estabilidade socioeconómica e política das nações. (Organização das Nações Unidas, sf)

Em relação à produção dessas substâncias, a América Latina produz muitas daquelas consideradas as mais consumidas no mundo. A região andina é o maior produtor mundial de coca e o maior fornecedor de produtos de cocaína. Segundo as Nações Unidas, nos últimos anos, as culturas de coca na Colômbia e no Peru aumentaram entre 3 e 5%, respectivamente, enquanto as culturas na Bolívia diminuíram 12%. (Arriagada e Hopenhayn, 2000).

A planta da papoula (onde são produzidos o ópio e a heroína) é encontrada principalmente na Ásia, mas também é cultivada e produzida em pequena escala no México, Guatemala, Colômbia e Peru. Por outro lado, segundo o Relatório Mundial sobre Drogas, os principais produtores de cannabis na América Latina são México, Bolívia, Colômbia e Paraguai.

Em países como Colômbia, Peru e Bolívia, os traficantes de drogas utilizam a população indígena e camponesa para cultivar coca, maconha e papoula. Os 3 países citados são os principais produtores de folha de coca do mundo com uma produção anual estimada de 550 toneladas de cocaína por ano. Vale ressaltar que a Colômbia é o único dos 3 países andinos que apresenta a característica de ser produtor e exportador de três dos principais entorpecentes. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Rotas

O principal problema que afeta a América Latina em termos de tráfico de drogas é a exportação de cocaína, visto que todo este produto é produzido na região. Estima-se que metade da produção total de cocaína da América do Sul destinada aos mercados mundiais passa pelo Caribe, desse total cerca de 35% vai para os Estados Unidos, enquanto 65% para a Europa, mas em ambos os casos, a droga transita através do Caribe, seja por via marítima ou aérea.

Na área do Caribe existe um extenso comércio marítimo e aéreo entre Porto Rico e toda uma cadeia geográfica para onde convergem traficantes de diferentes nacionalidades. Além disso, Porto Rico e as Ilhas Virgens Americanas são os portos mais próximos dos Estados Unidos, pelo que as Caraíbas continuam a ser a rota mais significativa para o transporte de drogas da América do Sul para os Estados Unidos. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

A cocaína entra clandestinamente nos mercados dos Estados Unidos; às vezes é levado primeiro para o México ou Canadá, de onde é mais fácil transportá-lo para diversos destinos. Da Colômbia, a cocaína é enviada por via aérea e marítima, principalmente para países europeus e africanos (para a sua posterior distribuição na Europa e no Mediterrâneo), para a Rússia e para países da zona do Pacífico, como a Austrália e o Japão. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

No que diz respeito à Colômbia, dada a sua condição bioceânica e a sua proximidade com as linhas de comunicação marítima do Caribe e do Oceano Pacífico, reúne condições propícias ao tráfico de drogas. Finalmente, o Brasil tem sido explorado como país de trânsito, dada a sua grande rede fluvial amazônica, o tamanho do território e, com isso, a disponibilidade de espaços de trânsito mal controlados.

A maconha é a única droga cultivada na região do Caribe e, nos últimos cinco anos, as apreensões de cocaína e maconha aumentaram na região da América Central, com exceção de El Salvador. O Haiti, que tem fronteira semiaberta com a República Dominicana, tornou-se o ponto de trânsito mais importante depois de Porto Rico. A cocaína chega por duas rotas principais: diretamente da Colômbia ou pelo Panamá. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Nos últimos anos, foi verificada uma modificação nas rotas seguidas pelos traficantes de drogas, inclusive os colombianos têm buscado uma forma de se estabelecer no Haiti com o objetivo de estabelecer um centro de comando e controle que atue em conjunto com a República Dominicana e Porto Rico, bem como centros de importação, armazenamento e exportação de drogas para os Estados Unidos, haitianos e dominicanos tornaram-se importantes transportadores e a partir daí administram suas operações na região do Caribe.

O aumento da procura destas substâncias criou a necessidade de desenvolver novas e melhores rotas de exportação, com o objectivo principal de agilizar o comércio e reduzir os riscos. Fazendo com que países como Brasil, Argentina, Venezuela e Chile ganhem maior presença e importância no mercado do tráfico de drogas.

O poder econômico do tráfico de drogas

A economia das drogas ilícitas na região é especialmente difícil de suprimir porque é muito lucrativa para os seus agentes, uma vez que gera uma quantidade significativa de emprego direto em atividades relacionadas e emprego indireto na lavagem de dinheiro, e não tem concorrência em termos de remuneração. obtidos pelas pessoas que participam dessas atividades.

As consequências económicas do problema das drogas vão desde o emprego em actividades ilegais ligadas à economia das drogas ilícitas, até à perda de produtividade e escolaridade devido ao consumo de drogas e, portanto, são importantes para o desenvolvimento da região.

O tráfico de drogas é de longe a atividade ilegal que representa o maior poder económico a nível internacional, o que o torna o motor financeiro das principais organizações criminosas do mundo. É aí que se baseia o enorme poder económico e a influência nas estruturas sociais, políticas e económicas dos países afectados por tais organizações. (Pontoon, 2013: 137)

Embora o comércio de substâncias ilícitas contribua, de facto, para a geração e expansão de emprego e rendimento, e para uma certa melhoria relativa do modo de vida e do nível de vida, para um certo número considerável de grupos e sectores, devido à atividades, investimentos e consumos que os traficantes de drogas realizam em suas atividades lícitas e ilícitas.

Os principais grupos para os quais o tráfico de drogas cria ou melhora -direta e indiretamente- as possibilidades e níveis de emprego, rendimento e modo de vida, são os seguintes: a) Camponeses; b) Técnicos de laboratório; c) Transportadores; d) Traqueteros (representantes dos traficantes de drogas nos Estados Unidos e outros mercados de exportação); e) “Mulas” ou “burros” (correios masculinos e femininos, que transportam drogas em voos comerciais entre cidades e países); f) Hitmen, profissionais da violência (segurança, defesa, ataque); g) Jovens disponíveis para tudo; h) Advogados para representação e aconselhamento jurídico em problemas e conflitos causados ​​pelo tráfico clandestino e investimentos legais; i) Contabilistas para registo e controlo de rendimentos, peritos financeiros; j) Intelectuais, comunicadores, jornalistas, escritores, profissionais das ciências humanas e sociais, especialistas em relações públicas, para a defesa e apologia do tráfico de droga e dos seus patrões; k) Funcionários das redes de investimentos, propriedades e sociedades jurídicas dos traficantes de drogas; l) Empregados em atividades comerciais e profissionais que satisfaçam a demanda de bens e serviços de consumo dos traficantes de drogas, v. gr., arquitetos, decoradores, médicos, veterinários, motoristas, modelos, atletas, etc.; m) Empregos e rendimentos complementares, proporcionados por traficante de drogas que captura e corrompe consciências e vontades, a políticos, governadores, administradores, legisladores, juízes, funcionários aduaneiros e fiscais, policiais, militares, envolvidos pelas suas responsabilidades e tarefas em ações e decisões em relação ao tráfico de drogas; n) Pessoal envolvido em atividades de prevenção e reabilitação de toxicodependentes e na repressão de traficantes e consumidores. (Universidade Nacional Autônoma do México, 2016).

Apesar do aumento sustentado das apreensões de droga, da detenção de traficantes de droga, da fumigação de colheitas e da destruição de grandes redes internacionais, o preço das drogas para os consumidores permanece estável ou baixo, os problemas associados ao consumo de drogas não diminuíram e a disponibilidade de drogas ilícitas nos mercados não diminuiu. Nos Estados Unidos, maior mercado nacional para o consumo de drogas ilícitas, embora o número de consumidores ocasionais tenha diminuído, o número de consumidores crónicos aumentou, o que implica uma deterioração da dimensão sanitária do problema. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Nas estimativas relativas à economia da droga, as transações são calculadas em torno de 500 a 600 bilhões de dólares por ano. O controlo e a criminalização do branqueamento deste dinheiro fazem parte das políticas de controlo dos governos nacionais, mas até à data os resultados neste domínio têm sido limitados. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Vulnerabilidade social

No que diz respeito à vulnerabilidade social, o principal problema do consumo de drogas é que afecta principalmente a população jovem em todos os países da região, em qualquer nível socioeconómico, inclusive se observou uma maior participação dos homens do que das mulheres no seu consumo. E embora afecte sem medida qualquer sector da população, observou-se que os jovens urbanos dos sectores de baixos rendimentos são os mais vulneráveis ​​aos danos gerados.

No nível local do tráfico de drogas, tem havido uma participação crescente de mulheres e menores de baixa renda, o que gera problemas judiciais e criminais sem precedentes. Em áreas com baixa presença ou controlo do Estado, o comércio de substâncias ilícitas constitui facilmente uma estratégia de sobrevivência adoptada por mulheres chefes de família e até por pessoas idosas com recursos limitados. Mesmo as pessoas com baixos rendimentos acabam por abandonar as suas ocupações anteriores, uma vez que o comércio ilegal de drogas lhes proporciona rendimentos substancialmente maiores. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

O uso e abuso de substâncias que causam dependência constituem um fenómeno complexo que tem consequências adversas para a saúde individual, a integração familiar e o desenvolvimento e estabilidade social. Entre os problemas causados ​​pelo seu consumo podemos citar uma forte deterioração da autoestima, graves problemas de sociabilidade, afetação no desempenho escolar ou profissional, levando à deserção e ao abandono do emprego, o que leva a problemas no ambiente familiar causando a sua desintegração.

No contexto político internacional, a questão do tráfico de drogas vem ganhando peso e presença, provocando maiores acordos governamentais nesta matéria. Os governos tomaram medidas e formularam planos nacionais para reduzir a procura e a oferta, colocando especial ênfase no controlo da produção e do tráfico de drogas, nas campanhas de comunicação e prevenção, no fortalecimento jurídico e institucional e numa maior cooperação. .

No contexto internacional, historicamente, as políticas regionais em matéria de drogas têm sido ditadas e impostas pelos Estados Unidos, particularmente na região andina e no México, e centram-se na proibição, na militarização e na obstrução dos fluxos de trânsito. Quanto às consequências sociais e políticas da produção, tráfico e consumo de drogas na América Latina, o que mais se destaca na imprensa são os atos de violência e corrupção que respondem por 88% dos noticiários. No que diz respeito à violência, a maior cobertura é dedicada à questão das gangues associadas à produção e ao tráfico de drogas, sendo a Colômbia e o México as principais fontes de notícias. (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Em segundo lugar de cobertura, aparece nos confrontos entre supostos traficantes de drogas e agentes dos Estados Unidos e na investigação das chamadas tumbas do narcotráfico, ambos atos de violência em que se destaca a relação com agentes dos Estados Unidos.

A cobertura no campo da corrupção e impunidade refere-se principalmente às situações enfrentadas pela Argentina, Brasil e México.Sobre este assunto, a maior cobertura é dedicada às instituições políticas onde se observa maior cobertura jornalística, no campo jurídico policial e militar a cobertura é reduzida , sem dúvida o caso mais emblemático e portanto com maior nível de cobertura é o que afecta o Governo argentino em relação à presença da família do falecido Pablo Escobar no referido território e a sua possível ligação ao branqueamento de capitais . (Arriagada e Hopenhayn, 2000)

Como se observa neste artigo, o tráfico de drogas começou a se desenvolver no mundo há pelo menos dois séculos, vem se instalando e avançando na América Latina nas últimas duas ou três décadas. Fê-lo a partir e através da experiência pioneira e paradigmática dos países andinos, para depois se estender ao Caribe, à América Central e do Sul.

Constituída e inicialmente centrada na Colômbia, mas posteriormente e cada vez mais com bases e ramificações no Peru e na Bolívia, em outros países da América Central e do Sul e do Caribe, incluindo o México, sua alta demanda fez com que os governos tomassem medidas e formulassem planos nacionais para reduzir ambos. procura e oferta, dando especial ênfase ao controlo da produção e do tráfico de drogas, às campanhas de comunicação e prevenção, ao fortalecimento jurídico e institucional e a uma maior cooperação internacional para controlar o tráfico de drogas e o branqueamento de capitais.

O maior enfoque da prevenção e tratamento nos grupos de maior vulnerabilidade social, uma melhor legislação que permita uma maior eficácia das ações de controlo ao fornecimento de drogas e crimes conexos são algumas das ações que o Governo tem levado a cabo para controlar, limitar e proibir o uso de drogas. substâncias ilícitas. Da mesma forma, agências internacionais e organizações públicas de diversos países têm assumido um papel de liderança como promotores e principais promotores da luta contra as drogas.

Fontes

    Organización de las Naciones Unidas. s.f. “Trafico de drogas”. Disponible en: https://www.un.org/ruleoflaw/es/thematic-areas/transnational-threats/drug-trafficking/. Fecha de consulta: 22 de abril del 2022.

    Pontón, Daniel. (2013). “La economía del narcotráfico y su dinámica en América Latina”. Disponible en: Dialnet-LaEconomiaDelNarcotraficoYSuDinamicaEnAmericaLatin 4473554.pdf. Fecha de consulta: 22 de abril del 2022.

    Universidad Nacional Autónoma de México. (2016). “Economía criminal y lavado de dinero”. Disponible en: https://revistas.juridicas.unam.mx/index.php/derecho comparado/article/view/3410/3983. Fecha de consulta: 22 de abril del 2022.


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