Enciclopédia
Paulina Villegas
O que é um estado desonesto?
- Um estado pária é um país que se destacou por ser perigoso para a comunidade internacional.
Da Coreia do Norte ao Irão, há Estados cuja fama internacional foi forjada sob o rótulo de Estados Rogue ou, como são mais conhecidos, Estados Rogue States. Mas o que levou países como a Líbia, o Irão, a Rússia, a Síria ou o Iraque a serem classificados sob este rótulo?”
Os Estados Rogue são países que se destacaram por serem nações perigosas para o dinamismo da comunidade internacional e para o estabelecimento de relações internacionais. Estes são países que desafiam o status quo através de violações sistemáticas das normas internacionais relacionadas com os Direitos Humanos fundamentais; como a luta contra a discriminação de género, contra grupos minoritários, comunidades étnicas, entre outros.
Esta categoria de Estados não tem limites no que diz respeito ao uso da violência, porque por serem países que violam regularmente os Direitos Humanos e as normas internacionais, a probabilidade de desafiarem outros atores estatais no sistema internacional com o uso de Armas de Destruição Massiva ( ADM), é alto.
Por outro lado, segundo especialistas do departamento de pesquisa da Universidade de Columbia; estas nações não reagem de forma previsível à intimidação e à dissuasão; Portanto, é essencial manter um tratamento especial e a pressão da comunidade internacional. O risco de não controlar este tipo de país resultaria em fenómenos como disputas territoriais, desestabilização de regiões do mundo, e até; guerras.
Para compreender a aplicação e os casos, é necessário considerar a era da Guerra Fria, pois é uma conceituação que nasceu como resultado de preceitos da política externa dos Estados Unidos para designar regimes que utilizavam mecanismos não convencionais; como o terrorismo, com o objetivo de dissuadir as políticas do Estado e alcançar objetivos ligados aos preceitos nacionais.
Da mesma forma, é necessário retornar aos preceitos propostos pelo dilema da segurança baseado no neorrealismo, que analisa o comportamento de alguns Estados do sistema no campo dos estudos de guerra e paz. Para tanto, esta teoria propõe dois tipos de atores-chave para compreender a ordem mundial e como mudam as relações de poder e a coexistência do sistema.
Com base na categorização proposta por Arnold Wolfers, por um lado existem os Estados com status quo; aqueles que moldam o sistema através de uma série de valores nacionais a tal ponto que influenciam a nível regional e até global. Estes Estados interferem diretamente no comportamento da comunidade internacional e procuram manter uma ordem mundial através de uma série de valores; assim como a democracia. Atualmente, os Estados Unidos e grande parte da Europa são considerados estados-chave para as relações internacionais, destacando assim o seu papel como status quo, uma vez que através de uma série de instituições e doutrinas liberais, moldaram o mundo tal como é conhecido hoje.
Por outro lado, temos os Estados revisionistas; aqueles que desafiam a ordem do sistema. O principal objectivo deste tipo de Estado é romper com os paradigmas do que é considerado correcto, procurando assim uma visão e uma ordem diferente, impulsionada sobretudo pelos ideais comunistas. Ao longo dos anos foram consideradas nações que direcionam suas ações com base em desejos de conquista, anexações territoriais e uso da violência.
Por fim, é crucial destacar que, embora esta teoria tenha tido origem na época da Guerra Fria, num contexto em que, como resultado da luta entre poderes e ideais, o capitalismo, a democracia e o neoliberalismo foram categorizados como valores universalmente aceites, sua influência perdurou até hoje. Esta conceptualização refere-se a uma variedade de nações caracterizadas pela sua propensão para a violência e, na sua maior parte, com uma inclinação para sistemas comunistas.
Mas o que isso tem a ver com os Estados Rogue?
A importância do dilema de segurança e da categorização dos Estados status quo e revisionistas reside no facto de que, a partir disso, a desconfiança e a incerteza que existem internacionalmente entre os seus actores estatais podem ser mitigadas; e por outro lado e de grande importância destacar, para compreender o comportamento dos Estados Palhaços, é necessário olhar para o que propõe a conceptualização dos Estados revisionistas; aqueles que desafiam o sistema e procuram modificar a ordem mundial através de mecanismos não convencionais, bem como do uso da força. Em suma, os Estados revisionistas e os Estados pária são a contrapartida.
Para aprofundar o tema, são apresentados dois casos em nível regional e internacional. Várias estatísticas oferecem uma classificação diferente, onde a Venezuela é considerada um Estado pária. Embora seja verdade que apresenta certas características, como o incumprimento das normas internacionais sobre Direitos Humanos, a principal característica destes Estados reside no exercício da violência. Além disso, hipoteticamente, ao procurarem obter maior poder através da utilização de ferramentas não convencionais, mantêm um interesse nacional na anexação de territórios, seguindo um padrão que tem sido observado em países como a Rússia desde os tempos czaristas.
A Venezuela foi rotulada de Estado pária, em grande parte devido às reivindicações do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, perante a Assembleia das Nações Unidas. Trump destacou uma característica dos estados revisionistas: ser um país comunista que desafia a ordem na região latino-americana. Esta nação também enfrenta desafios como o colapso económico, fragilidades de segurança devido ao tráfico de drogas e graves violações dos direitos fundamentais da sua população. Contudo, é importante notar que estas características não abrangem todas aquelas que são características dos estados pária.
Sob a mesma premissa, um país mais adequado para categorização seria o Iraque, um dos casos mais controversos do início do século XXI. Berço de diversas civilizações antigas, dos sumérios aos babilônios, o Iraque já foi um dos territórios mais multiculturais e prósperos da região da Ásia Ocidental, porém, em decorrência da ditadura opressiva de Saddam Hussein, atualmente o Iraque é um dos Estados pária mais ameaçadores na arena internacional.
Não podemos esquecer a década de 90, depois de ter invadido o território do Kuwait com objectivos de anexação, o Iraque foi acusado pela comunidade internacional de ter desenvolvido Armas de Destruição Massiva, em resposta a isso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma intervenção preventiva no território iraquiano, lidando assim com uma nação caracterizada pela inclinação para a anexação de territórios, pelo incumprimento das regulamentações internacionais e por graves violações sistemáticas dos Direitos Humanos Universais.
Tendo em conta o que precede, sublinha-se que o comportamento adverso do Iraque, baseado na utilização de armas químicas e presumivelmente nucleares, desestabilizou a região do Golfo Pérsico. Finalmente, é importante especificar os extermínios massivos de milhares de curdos e muçulmanos xiitas através do uso de armas químicas como emblema do partido Baath, que, note-se, são proibidos e regulamentados pelo Direito Internacional. O Iraque, uma nação que definiu o seu papel na esfera internacional sob preceitos de violência e comportamento imprevisível, ganhou de longe a categoria de Estado pária.
Rogue States, um conceito ocidentalizado?
Não se nega que a conotação deste tipo de Estado seja negativa; especialmente considerando que é um termo cunhado durante a era da Guerra Fria.
Daí surgiu um fenómeno que desencadeou uma luta bipolar de ideais, preceitos e modelos políticos e económicos. Destacando-se entre estes elementos, surgiu uma corrida armamentista que, sob a fusão destas forças, deu origem a um conceito destinado a categorizar os Estados que representariam uma ameaça à comunidade internacional e à paz mundial. A questão é: não serão realmente mais assim para o Ocidente?
A declaração de guerra global contra o terrorismo adoptada pelos Estados Unidos sob o mandato do ex-presidente George Bush, significou um reordenamento da agenda internacional, e que incluiu uma categorização para certos Estados que foram considerados uma ameaça por diversas razões; suposto apoio ao terrorismo e promoção de enclaves de grupos não governamentais a ele ligados, classificando-os assim como o famoso “Eixo do Mal”. Trata-se de um grupo formado por seis Estados; o Iraque, o Irão, a Coreia do Norte e mais tarde incluíram a Líbia, a Síria e Cuba na lista, alguns dos quais se tornariam considerados estados pária, devido à sua elevada probabilidade de desenvolver armas de destruição em massa; uma ameaça à paz internacional.
Embora a maioria dos Estados desta lista apresentem um elevado índice de incumprimento das regulamentações internacionais, não devemos deixar de lado um elemento crucial; a relação distante com o Ocidente. Por outro lado, não é por acaso que existem vários casos em que a permanência de governos comunistas significaria um “desequilíbrio do sistema internacional” sob a actual teoria e vários discursos; Ou são regimes que são obrigados a passar por um profundo processo de democratização, como foi o caso no Afeganistão na altura.
O certo é que quer se trate de um governo democrático ou comunista, é importante considerar a categoria de Estados Rogue States para estabelecer políticas internacionais que permitam manter uma maior dinâmica nas relações internacionais, promover a ordem no sistema e mitigar em maior medida o exercício da guerra.
Fontes
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8. Wolfers, Arnold. “THE BALANCE OF POWER IN THEORY AND PRACTICE.” Naval War College Review 11, no. 5 (1959): 1–20. http://www.jstor.org/stable/45139621.