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Quem é o dono do Ártico?

- A disputa pela soberania do Ártico pode parecer absurda, dada a natureza fria e inóspita daquele lugar, porém, vários países o têm em mente.

Quem é o dono do Ártico?

O Ártico, como muitos outros ecossistemas do planeta Terra, está passando por severas modificações causadas pelas mudanças climáticas. A Associação Modelo das Nações Unidas da Universidade de Dhaka, DUMUNA, garante que esse grande bloco congelado, localizado no Pólo Norte do globo, está gradualmente derretendo graças ao aumento das temperaturas e, com isso, mais países se juntam à luta para obter o controle sobre ele ( 2020, parágrafo 1).

A princípio, essa “disputa” pela soberania do Ártico pode parecer absurda, dada a natureza gelada e inóspita daquele lugar, porém, uma análise mais profunda se faz necessária. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, abaixo do Ártico estão aproximadamente 22% das reservas mundiais de petróleo e gás; Além disso, a rota marítima que emergiu do degelo tem potencial para substituir o Canal de Suez (DUMUNA, 2020, par. 1).

Quando se combinam estas duas características de elevado valor geopolítico e geoestratégico, ver reservas energéticas e novas rotas marítimas comerciais, o conflito do Ártico faz sentido. A boa notícia é que o debate sobre quem pode controlar e explorar esse território congelado ocorreu nas Nações Unidas, ONU e nos mecanismos de solução de controvérsias da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, UNCLOS (Carlson, Hubach, Long , Minteer & Young, 2013, p. 28). No entanto, o risco de um conflito bélico em decorrência do Ártico não pode ser 100% descartado, principalmente com a crescente militarização em seu entorno.

Contexto histórico contemporâneo: da guerra fria à CNUDM

A partir de 1940, o Ártico tornou-se uma zona estratégica porque o mundo descobriu que essa região representava a menor distância entre América, Europa e Ásia, para o bem ou para o mal (Piffero, da Silva, Gimenez, Lersch & Gihad, 2013, p. 15). Durante a Segunda Guerra Mundial, essa proximidade foi utilizada pelos aliados para coordenar estratégias militares colaborativas contra o eixo, porém, a situação mudou radicalmente em 1950, ano em que o Ártico se tornou uma região de tensão e escalada militar (Piffero et al. al ., 2013, pp. 15-16).

Outra situação que funcionou como catalisador do conflito foram os Estados Unidos sob a presidência de Truman. O ex-presidente dos EUA proclamou uma política que permitia a seu país extrair unilateralmente recursos naturais marinhos, o que a ONU combateu com a Convenção sobre a Plataforma Continental de 1958, documento legal aprovado por todos os países exceto a Islândia (DUMUNA, 2020). , par. 6 ). Se as possíveis disputas judiciais foram contidas por alguns anos com a ação da ONU, a escalada militar não parou em nada.

Entre o início dos anos 1950 e o final dos anos 1970, os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido construíram vários sistemas antimísseis no Alasca, no norte do Canadá e na Groenlândia, enquanto a União Soviética fez o mesmo, colocando submarinos nucleares na área circundante ( Piffero et al., 2013, pp. 16-17). Durante esses anos, os confrontos diplomáticos sobre o Ártico ressurgiram. Em 1972, o Reino da Dinamarca e o Canadá enviaram à ONU seu “acordo legal” sobre os territórios árticos, movimento que gerou inquietação e discórdia em outros países como a União Soviética (DUMUNA, 2020, par. 7).

Não foi até a década de 1980 que as crescentes questões militares e diplomáticas sofreram grandes mudanças. Em 1º de outubro de 1987, Gorbachev, ex-líder da União Soviética, declarou a "Iniciativa Murmansk", onde pediu a cessação da natureza hostil no Pólo Norte e a colaboração científica naquela região com os Estados Unidos e o resto do mundo ( Piffero et al., 2013, p.17). Do lado diplomático, as reivindicações adquiriram caráter institucionalizado com o artigo 76 da UNCLOS, que permite a um Estado-membro, caso forneça evidências geológicas de que um fundo marinho distante pertence à sua plataforma continental, adquirir o controle daquele território (DUMUNA, 2020, pars 8-10).

Em outras palavras, a UNCLOS permite que seus participantes reivindiquem áreas marinhas que estão além de sua zona econômica exclusiva, ZEE, se provarem com evidências científicas que essas regiões estão localizadas em sua plataforma continental. Graças ao exposto, países como Canadá, Rússia, Dinamarca e Noruega usaram esse mesmo artigo da UNCLOS para buscar impor sua soberania sobre o Ártico nos últimos tempos.

reivindicações russas

Em dezembro de 2001, a Federação Russa, após assinar e ratificar a UNCLOS em 1997, tornou-se o primeiro país a solicitar uma extensão de sua ZEE em direção ao Ártico, porém, seu pedido foi rejeitado na ONU (Carlson et al., 2013, p. 28). Apesar da recusa, a Rússia não desistiu e, nos anos seguintes, continuou a empreender novas ações com o objetivo de assumir o controle do Ártico. A próxima jogada do Kremlin sobre o assunto ocorreu em 2007, quando batedores russos visitaram a região para coletar informações sobre o petróleo ali localizado, fincar uma bandeira da Federação Russa e declarar o "retorno" de seu país como grande potência ( Carlson et al., 2013, p.29).

Catorze anos depois desses eventos, a Rússia enviou um novo pedido à ONU, novamente com base no artigo 76 da UNCLOS, com evidências científicas para poder estender sua ZEE em direção ao Ártico a tal ponto que invada a área do Canadá, buscando uma expansão aproximada de 705.000 quilômetros quadrados (Tranter, 2021, par. 5). Como o pedido foi enviado em 2021, ainda não há resposta da ONU e a incerteza permanece. Até agora, todas as ações anteriores da Rússia foram na esfera diplomática, mas resta analisar a outra estratégia usada pelo Kremlin para tomar o controle do Pólo Norte: uma escalada militar.

Ao contrário dos desejos de seu antecessor, Vladimir Putin procurou restaurar a presença militar da Rússia no Ártico pouco a pouco; Em 2008, o gasto militar direcionado para operações naquela área foi de 58 bilhões de dólares, sete anos depois o valor aumentou para 90 bilhões de dólares (Petersen & Pincus, 2021, p. 492). Além disso, o atual governo russo tem direcionado grandes recursos econômicos para modernizar todo o sistema tecnológico presente no Pólo Norte. Em 2018, Nikolai Yeymenov, comandante militar da Rússia para o Ártico, explicou que a modernização do sistema de rádio, fiação, comunicações, infraestrutura e defesa antimísseis busca criar um "escudo" antimísseis para a Rússia, uma meta que era impossível com equipamentos soviéticos anteriores, para renovação (Petersen & Pincus, 2021, p. 493).

Tudo indica que a escalada militar russa no Ártico não vai parar no futuro próximo por dois motivos: defesa e potencial energético. Segundo vários estrategistas russos, o controle sobre o Pólo Norte é um perigo para sua segurança nacional porque certos Estados e coalizões militares, como a Aliança Atlântica, a OTAN, buscam dominar aquela região com a intenção de intimidar a Rússia (Petersen & Pincus, 2021 ). , p.497). Do lado da energia, se Putin conseguir assumir a maior parte do Ártico, consolidaria a Rússia como líder indiscutível da energia, dando-lhe o poder de dominar os mercados mundiais de petróleo e gás (Carlson et al., 2013, p. 30).

Reivindicações canadenses

Embora o Canadá tenha reivindicado o Ártico desde o início do século 20, foi somente em 1969 que fez uma declaração oficial e séria quando uma empresa americana tentou entrar na área congelada pertencente ao governo canadense (Carlson et al. , 2013, p. 31). Como consequência, Ottawa teve alguns desentendimentos com governos perto do Pólo Norte. A mais próxima é com os Estados Unidos e trata-se de uma disputa específica pelo Mar de Beaufort, enquanto a Dinamarca, via Groenlândia, o conflito desembarca nas Ilhas Hans, extensões de terra bem próximas ao Ártico (Carlson et al., 2013, p. .32).

Ao contrário da Rússia, o Canadá não realizou ações militares tão grandes nas proximidades desse território. A única operação ou militarização realizada pelo governo canadense ocorreu em 2005, ano em que o exército de Ottawa foi às Ilhas Hans retirar a bandeira dinamarquesa para substituí-la por uma canadense (Carlson et al., 2013, p. 32) . O tempo passou e o Canadá, depois de reunir muitas evidências científicas, deu o próximo passo anos depois. Agora se tornando o terceiro país a reivindicar que deveria ter soberania sobre grande parte do Ártico com base no artigo 76 da CNUDM, o Canadá enviou seu pedido à ONU em 2019 (Kemeny, 2019, par. 1). Ainda não há resposta da ONU ao pedido do Canadá, o que provavelmente não mudará por algum tempo, considerando a reivindicação da Rússia e da Dinamarca.

reivindicações dinamarquesas

O caso da Dinamarca não pode ser entendido se não for enfatizado que este país tem controle sobre a Groenlândia e as Ilhas Faroé. Dada a sua proximidade com o Ártico, os dois territórios mencionados facilitam muito para o governo dinamarquês sobre o assunto, no entanto, suas ações tiveram que esperar até 2014 porque não foi até 2004 quando ratificou a UNCLOS (Carlson et al., 2013, pág. 33). Assim, e com base no artigo 76.º da convenção, em 2014 a Dinamarca, juntamente com a Gronelândia e as Ilhas Faroé, enviou o seu pedido à ONU para ter o controlo de mais de 350.000 milhas quadradas no Ártico (Calamur, 2014, par. 1). Assim como o Canadá, a Dinamarca não tomou uma ação militar em larga escala por causa do Pólo Norte, mas isso não se traduz em ignorância ou arrogância do governo dinamarquês. Logo após enviar o pedido à ONU, o Ministro das Relações Exteriores dinamarquês declarou que a posição de seu país poderia levar a conflitos diplomáticos com Noruega, Canadá, Rússia e Estados Unidos (Calamur, 2014, par. 9). Assim como os pedidos russos e canadenses, a Dinamarca também não recebeu resposta da ONU.

E os EUA e a China?

Ambos os países, ao contrário da Rússia, Canadá e Dinamarca, não fizeram reivindicações sobre o Ártico com base no Artigo 76 da UNCLOS. No caso dos Estados Unidos, como não é membro da convenção, é impossível para ele fazer uma reclamação como esta, por isso tem usado outros mecanismos, veja a declaração em 2008 onde, supostamente, a ZEE do Alasca atingiu o Ártico ( Carlson et al., 2013, p.37). Desde então, os Estados Unidos mantiveram uma postura vigilante sobre o controle do Pólo Norte e seus recursos energéticos. Em 2013, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos afirmou que o Ártico se tornou um assunto de grande importância para seu país, que está disposto a colaborar com seus aliados para alcançar seus objetivos estratégicos na área (Lundestad & Tunsjø, 2015, p. .392).

No caso da China, a situação é mais complexa no Ártico. Embora Pequim faça parte da UNCLOS, esse documento legal não permite que ela faça uma reivindicação como as feitas pelo Canadá porque a China não está geograficamente próxima do Pólo Norte. Graças a isso, a postura do governo chinês tem sido mais discreta e fechada. Por exemplo, sua ação mais concreta foi a admissão como país observador no Conselho do Ártico em 2013; A China não tem uma política “oficial” em relação ao Ártico como os demais países interessados ​​no assunto (Lundestad & Tunsjø, 2015, p. 395). Assim, a posição chinesa pode ser interpretada como um “esperar para ver” em relação aos acontecimentos recentes no Ártico, pois, para o governo chinês, desde a década de 1990 essa região inóspita da Terra tem sido muito atrativa para pesquisas científicas (Lundestad & Tunsjø, 2015 , p.395).

O ÁRTICO, A ÚLTIMA ENCRUZILHADA GEOPOLÍTICA – GEOPOL 21

Reivindicações territoriais do Ártico. Disponível em: https://geografia.laguia2000.com/hidrografia/reclamaciones-territoriales-en-el-artico

Fontes

    Fischetti, Mark. (2019). ''A quién pertenece el Ártico?. Investigación y Ciencia, no. 517, pp. 22-30. Recuperado de: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7156895


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