Opinião
Luis González
2021, um novo ciclo eleitoral na América Latina: é hora de evitar que as eleições estejam à venda
- Quando ocorre a compra de votos, por que e quais são as suas consequências? Responderei a essas perguntas abaixo.
No meio da crise económica e social causada pelo vírus SARS-CoV 2, processos eleitorais cruciais terão lugar na América Latina em 2021. No Chile, Equador, Peru, Honduras e Nicarágua renova-se o Poder Executivo e em alguns destes países também o Poder Legislativo. Na Argentina e no México será renovada parte do Poder Legislativo Federal. Além disso, no Chile haverá eleição para uma Assembleia Constituinte como resultado do plebiscito de 2020.
Para alguns analistas, o destino das eleições poderia ser definido não só nas urnas, mas também nas ruas. Argumento nada estranho à realidade: os protestos no Chile deram origem ao plebiscito constitucional e no Equador conseguiram a revogação do decreto que gerou o aumento dos combustíveis. Embora o protesto seja um recurso com potencial para mudar o destino de um país, é imperativo garantir que as próximas eleições sejam livres, justas e competitivas, tendo em conta a grave situação e as consequências de uma crise institucional pós-eleitoral.
Em Honduras e na Nicarágua existe o risco de fraude eleitoral devido à intervenção das administrações de Juan Orlando Hernández e Daniel Ortega, respectivamente. O Peru enfrenta o desafio de recuperar a estabilidade após a crise política do ano passado, marcada por escândalos de corrupção. Além disso, em todos os países que realizam eleições, os partidos e os candidatos recorrem a diferentes estratégias para persuadir, manipular ou (des)mobilizar os eleitores. Uma das práticas mais prejudiciais para a democracia – e difundida, embora em graus diferentes – é a compra de votos. Quando e por que isso acontece e quais são as suas consequências? No espaço seguinte, e de forma resumida, responderei a estas questões.
A compra de votos, entendida como a distribuição contingente de benefícios particulares concedidos a um indivíduo ou grupo de pessoas em troca do seu voto em períodos eleitorais, tende a ocorrer com mais frequência em democracias não consolidadas ou recém-criadas onde a presença do Estado é mínima ou não. existentes e/ou onde as instituições políticas são fracas. A baixa ou inexistente presença do Estado gera vazios de poder que são cobertos por outros atores (grupos político-econômicos, crime organizado, grupos insurgentes, etc.) que substituem o Estado em algumas funções de sua competência exclusiva - como a segurança pública -. A fragilidade institucional, por sua vez, promove a desconfiança dos cidadãos e reforça o uso de práticas informais e ilegais.
Nestes contextos, grande parte das reivindicações dos cidadãos não obtém resposta das autoridades competentes, mas sim dos “mecenas” (políticos ou empresários) que atendem às necessidades e fazem favores através de uma rede de intermediários. A ajuda é geralmente condicionada ou solicitada em troca de apoio político-eleitoral. A compra de votos vai além dessa lógica de trocas pessoais e individuais que não são necessariamente ilegais. Os compradores de votos aproveitam as deficiências institucionais, a corrupção e a impunidade. Nesse sentido, se os partidos perceberem que a compra de votos é mais eficaz do que outras formas de manipulação eleitoral, então optarão por priorizá-la.
Da mesma forma, as condições estruturais influenciam a compra de votos, sendo a pobreza um dos principais factores. Do ponto de vista dos compradores, é mais lucrativo corromper uma pessoa de baixa renda do que uma pessoa de renda média ou alta. Isso representa mais votos com menos dinheiro. Algo semelhante acontece do lado da procura: para a população de baixos rendimentos, a utilidade marginal da venda do seu voto é maior do que para aqueles com rendimentos médios ou elevados.
Outro elemento ligado ao momento em que ocorre a compra de votos está relacionado com a capacidade de controlo e vigilância dos partidos políticos para garantir o cumprimento dos eleitores. A compra de votos é mais eficaz se os partidos tiverem instrumentos para monitorar a forma como a população vota. Quando o comportamento dos eleitores, partidos e candidatos é monitorado, minimizam a perda de recursos investidos, dando uma solução ao problema do agente principal (problema do agente principal). Acompanhar o agente, que neste caso é o eleitor, é uma forma eficaz de influenciar a sua decisão.
No que diz respeito às consequências, a lista inclui aspectos regulamentares e práticos. Primeiro, as eleições como mecanismo de responsabilização perdem utilidade prática. O cidadão que vende a cédula e vota em quem o comprador indica não julga pela experiência, pela gestão à frente do governo ou pela proposta de partidos e candidatos. Pior ainda, perde-se a oportunidade de que as reivindicações de um grupo da população -aquele que decidiu vender o voto- sejam incorporadas na agenda política e geralmente são as reivindicações das populações mais vulneráveis que já não são ouvidas.
Em segundo lugar, a compra de votos cria incentivos errados. Por um lado, os políticos que obtêm uma posição eleita pelo povo a partir de tal prática não são os mais qualificados. Por outro lado, para estes políticos não é atrativo formular políticas programáticas e responsabilizar-se pelas suas ações, pelo contrário, o político preferirá compensar as suas bases de apoio financeiro alocando recursos ou atribuindo-lhes contratos.
Por último, a compra de votos vem acompanhada de outros crimes eleitorais. O dinheiro para a compra de votos é um recurso não declarado, uma vez que está a ser utilizado para uma actividade ilegal. Os partidos que recorrem a esta estratégia muito provavelmente ultrapassarão os limites da campanha. Um terceiro crime estaria ligado à origem do dinheiro, cuja origem mais comum são as contribuições de empresários e o desvio de recursos públicos. Todo o dinheiro entrado na campanha cujo objetivo é manipular o eleitor gera desigualdade na disputa.
Perante uma crise económica sem paralelo, nas eleições deste 2021 é necessário proteger o voto das ameaças de governos, candidatos e partidos políticos. Para quem está habituado a recorrer à compra de votos, o cenário não poderia ser melhor, pois estima-se que o número de pobres na região aumentará em mais de 40 milhões. Ao nível macro, uma forma de combater este fenómeno é melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, um feito quase impossível em plena contingência. Porém, grandes mudanças surgem da soma de pequenas ações. Os cidadãos a nível individual podem enfrentar este problema e melhorar a qualidade da democracia, para a qual a sensibilização é essencial. Deixe claro que a compra de votos mantém privilégios e agrava as desigualdades sociais.